domingo, 24 de abril de 2011

Vida e obra de Pablo Picasso.

 

Biografia - Pablo Picasso (1881-1973)

Uma vida entre mulheres

Ele amou as mulheres com a mesma intensidade com que produziu sua obra. Alguns críticos e historiadores chegaram a mostrar a coincidência, de forma um tanto quanto esquemática, entre as fases de sua carreira e os romances que protagonizou. Embora esta pareça uma interpretação arriscada e simplista, o próprio Picasso fazia questão de estabelecer relações diretas entre sua vida privada e os rumos de seu trabalho artístico. "Pinto da mesma forma como outros escrevem uma autobiografia", dizia.

Nascido em 1881, em Málaga, Espanha, Pablo Picasso era filho de um professor de desenho e, desde cedo, demonstrou um talento singular para as artes. Quando tinha 14 anos, seus pais mudaram-se para Barcelona, onde montou seu primeiro ateliê e conviveu com os intelectuais e boêmios da cidade.

Aos 20 anos, viajou para Paris, onde levou uma vida espartana, dividindo um pequeno quarto com o poeta e jornalista Max Jacob. São desta época de sérias dificuldades financeiras, entre 1901 e 1905, os quadros de sua chamada "fase azul", caracterizada pela melancolia estampadas no rosto das figuras humanas que pintava.

A "fase azul" teve fim quando entrou em cena, na vida de Picasso, a bela Fernande Olivier, uma mulher exuberante, que trabalhava como modelo para vários artistas. É quando surge, entre 1905 e 1906, a chamada "fase rosa" de seu trabalho, na qual predominaram os temas circences, com figuras recorrentes de dançarinos, acrobatas e arlequins.

Mas foi em 1907 que Picasso deu a grande virada em sua carreira, ao produzir uma obra que viria revolucionar todo o cenário artístico da época: Les Demoiselles d’Avignon, marco fundamental da estética cubista. O quadro tem nítida influência das pesquisas de Picasso sobre a arte ibérica e africana, além de revelar seu contato com a obra de Matisse e Cézanne. É nessa síntese de referências que o pintor vai buscar os ingredientes necessários para compor o quadro célebre, que implodiu conceitos básicos das artes até então, como a perspectiva e o sombreado para expressar volume. Mas houve quem visse em um novo romance de Picasso, com outra bela mulher, Marcelle Humbert, as motivações para essa explosão criativa do artista.

Em 1915, Marcelle morreu tuberculosa e, três anos depois, Picasso casou com a bailarina Olga Koklova, que lhe deu o primeiro filho, Paul. O casamento durou 20 anos, embora o coração instável de Picasso tenha começado a bater muito antes pela jovem Marie-Thérèse Walter, de apenas 17 anos, com quem manteve um tórrido caso de amor. O divórcio de Picasso e Olga foi traumático, com disputas judiciais que levaram o artista a ser impedido de entrar em seu próprio ateliê e a perder para a ex-mulher a posse do Château de Boisgeloup, onde ele e a lolita Marie-Thérèse encontravam-se às escondidas.

Segundo uma das biógrafas de Picasso, Antonina Vallentin, foi por causa do romance com Marie-Thérèse Walter que Picasso modificou mais uma vez sua maneira de pintar: "É para ela que inaugura o seu modo de composição linear, com curvas sinuosas que reproduzem os movimentos sutis do corpo da amada". Ao mesmo tempo, Picasso passou a retratar Olga Kaklova como um monstro abominável.

Picasso ainda dividia os lençóis com Marie-Thérese quando apaixonou-se pela fotógrafa Dora Maar, que lhe servirá de modelo para a figura da "Mulher que chora", no célebre painel "Guernica". Manteria o relacionamento amoroso com Dora até 1943, ano em que conheceu mais uma de suas musas, a também pintora Françoise Gilot, que foi a única mulher a abandoná-lo, dez anos depois, em 1953. Com 72 anos, Picasso resolveu casar mais uma vez, com Jacqueline Roque, 35 anos mais nova do que ele.

Morreu em 1973, aos 91 anos de idade, com problemas na visão, na vesícula e na próstata.

Curiosidades 
  • Nascido morto. Os biógrafos de Pablo Picasso afirmam que, ao nascer, ele foi considerado um natimorto. Após sair do ventre da mãe, o bebê não apresentou sinais de respiração ou de batimentos cardíacos. Um tio, o médico Salvador Ruiz Blasco, tentou reanimar a criança e baforou a fumaça de seu charuto sobre o rosto dela. Para surpresa de todos, o recém-nascido reagiu e começou a chorar.
  • Nome quilométrico. Depois do incidente durante o nascimento do pequeno Pablo, a família quis garantir a proteção dos céus para o filho e reuniu, na hora do batismo, uma série de referências a santos protetores. É por este motivo que o nome completo do artista era enorme: Pablo Diego Jose Francisco de Paula Juan Nepomuceno Crispin Crispiniano de la Santisima Trinidad Ruiz Blasco Picasso y Lopez.
  • O suicídio do amigo. O choque emocional provocado pelo suicídio de um amigo, o pintor Carlos Casagemas, em 1901, por causa de uma desilusão amorosa, é considerado um dos motivos que desencadearam a melancólica "fase azul" de Pablo Picasso. Casagemas havia sido rejeitado por uma jovem chamada Germaine, que havia posado para alguns quadros de Picasso. Após a morte do amigo, Picasso pintou várias obras em homenagem a Casagemas.
  • Arte atirada ao fogo. No início da carreira, quando ainda dividia um pequeno quarto com o poeta e jornalista Max Jacob em Paris, Pablo Picasso passou por muitas privações. Durante um inverno mais rigoroso, para escapar do frio, foi obrigado a queimar alguns de seus desenhos para manter o cubículo aquecido.
  • "Foi o senhor que fez isso?"  Uma das obras mais célebres de Picasso, o mural "Guernica", foi encomendada pelo governo espanhol para o pavilhão daquele país na Exposição Internacional de Paris, em 1937. As imagens dramáticas que concebeu retratam o bombardeio dos aliados nazistas de Ferdinando Franco sobre a cidade espanhola de Guernica, durante a Guerra Civil Espanhola, que precedeu à Segunda Guerra Mundial. Consta que, quando da ocupação nazista na França, o embaixador alemão teria perguntado com desdém a Picasso, diante de uma foto de "Guernica": "Foi o senhor que fez isso?". Ao que Picasso teria respondido: "Não, foram vocês".
  • Picasso e Einstein.  Não foram poucos os críticos e historiadores da arte que tentaram estabelecer relações entre a fase cubista de Picasso e a Teoria da Relatividade de Albert Einstein. Segundo defendem os adeptos da tese, as experiências estéticas do cubismo, sobretudo aquelas relacionadas à exploração do espaço e do tempo, teriam sido influenciadas pelas pesquisas científicas de Einstein. Ao representar objetos e rostos humanos de frente e de perfil ao mesmo tempo, por exemplo, Picasso estaria trabalhando o conceito de quarta dimensão e da simultaneidade, corroborando a teoria relativista de Einstein, segundo a qual o tempo não pode ser encarado como um fluxo, mas como uma faceta da realidade.

Contexto histórico

"Eu não aprimoro, eu sou"

Pablo Picasso dizia que passou a vida inteira para aprender a desenhar como uma criança. De fato, seus trabalhos de juventude seguiam à risca os padrões acadêmicos. Aos 15 anos, fez um retrato de sua mãe que comprova um domínio perfeito sobre a técnica do desenho e da pintura tradicional.

Nos quadros de suas duas primeiras fases, a "azul" e a "rosa", também demonstrou um inegável requinte formal, até que decidiu subverter os conceitos consagrados de harmonia e todos os padrões de beleza estética, ao pintar as figuras propositalmente distorcidas e fragmentadas de Les Demoiselles d’Avignon.

Impossível não notar a influência de Paul Cézanne na ruptura que Les Demoiselles provocou em relação a todas as convenções e dogmas da arte ocidental, abrindo caminho para as experiências do cubismo. Ao mesmo tempo, é interessante notar que o conjunto da obra de Picasso não pode ser reduzido a nenhum movimento específico, embora sua busca por novas formas de expressão tenha mantido conexões e sido cortejada por membros de diferentes vanguardas da arte moderna: cubistas, surrealistas, expressionistas e abstracionistas, entre outros.

O próprio Picasso rejeitava solenemente qualquer idéia de que houvesse um sentido evolutivo no cerne de seu trabalho. "Eu não procuro, eu acho", dizia. "Eu não aprimoro, eu sou", reforçava. Por isso mesmo, permitia-se lançar mão dos mais variados estilos, sem que isso significasse a busca de uma linha progressiva de um ponto específico para outro. "Os diversos estilos que empreguei em minha arte não devem ser considerados como uma evolução, ou passos rumo a um ideal desconhecido de pintura. Quando queria expressar algo, não o fazia pensando no passado ou no futuro".

Pablo Picasso demonstrava absoluta consciência de sua contemporaneidade: "Aliás, não há, na arte, nem passado nem futuro. A arte que não estiver no presente jamais será arte". Como bem observou o crítico e poeta mexicano Octávio Paz, a vida e a obra de Picasso confundem-se com a própria história da arte no século 20: "Ele foi, por excelência, o pintor de seu tempo, com seu inconformismo, negações e dissonâncias. Seus contemporâneos reconheciam-se em suas obras, embora nem sempre as entendessem".


Sites relacionados
  • Fundação Pablo Picasso - Portal oficial da entidade, localizada em Málaga, cidade onde nasceu Picasso. Em inglês, francês e espanhol:  
http://fundacionpicasso.malaga.eu/opencms/opencms/fundacionpicasso/portal_es/portada

 

Principais obras

1. Les Demoiselles d’Avignon (1907) - A obra que modificou a história da pintura no século 20. Na época, provocou choque geral por causa da ousadia.
2. Guernica (1937) - A obra mais divulgada e reproduzida de Picasso, sobre os horrores da guerra civil espanhola.
3. Mulher sentada (1937) - Um dos muitos retratos que Picasso fez da amada Marie-Thérèse.
4. Dora Maar com Gato (1941) - Outra musa de Picasso, a fotógrafa Dora Maar, também foi modelo para muitas obras do artista.
5. Pomba da Paz (1949) - Desenho célebre, que marca a aproximação de Picasso com a doutrina comunista.

Fonte:  http://mestres.folha.com.br/pintores/06/

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