domingo, 24 de abril de 2011

Vida e obra de Vincent van Gogh (1853-1890)

 


Biografia
"O artista maldito"

Ele passou para a história como um dos exemplos mais notórios do artista maldito, do gênio desajustado, do homem incompreendido por seu tempo, mas que foi aclamado pela posteridade. Ao longo da vida, sofreu uma série interminável de infortúnios: desilusões amorosas, crises nervosas, misérias financeiras. Foi tratado como louco, ficou várias vezes exposto à fome, à solidão e ao frio. Ridicularizado pela maioria de seus contemporâneos, hoje é considerado um dos maiores mestres da pintura universal.

Vincent Willem van Gogh,  nasceu em 30 de março de 1853, em uma pequena aldeia de Groot-Zundert, na Holanda. O irmão mais velho, que também fora batizado como Vincent, nascera um ano antes, 1852, igualmente em 30 de março, mas morrera com apenas seis meses de idade. Assim, a criança recém-nascida vinha ao mundo com a responsabilidade de ocupar o lugar que o destino roubara ao primogênito.

Por isso, van Gogh foi obrigado a abandonar cedo a escola, para ajudar no sustento da família. Filho de um pastor protestante,  conseguiu aos 15 anos o emprego de empacotador e despachante de livros na cidade de Haia, numa filial da prestigiada galeria Goupil, de Paris. Ali, manteve seus primeiros contatos com a arte e com artistas.

Foi transferido para a filial de Bruxelas e, em seguida, para a de Londres. Mas, após ser rejeitado por uma jovem inglesa pela qual se apaixonara, caiu em depressão, buscou refúgio espiritual na religião e acabou demitido. A partir de então, passou a ter uma existência mística e errante. Alternou empregos subalternos, viveu como vagabundo e foi pregar o Evangelho para camponeses e mineradores no interior da Bélgica.

Em 1880, enfim, trocou a fé pela arte. Mas a sua inquietação existencial continuou, ainda mais intensa. Apaixonou-se novamente, desta vez por uma prima, que também recusou-lhe o seu amor. Em 1882, conheceu a prostituta Christine Sien, grávida e alcoólatra, com quem passou a viver durante alguns meses, até que a convivência entre os dois se tornou insuportável. Nesse período, os quadros de van Gogh ainda possuíam cores e tons predominantemente escuros.

Após a morte do pai, em 1885, o artista nunca mais retornaria a Holanda. Fixou-se inicialmente na Antuérpia e, depois, decidiu ir a Paris, onde passou dois anos e descobriu a pintura luminosa dos impressionistas. "O ar francês  limpa o cérebro e faz bem", escreveu à época, antes de decepcionar-se com a rivalidade entre os artistas locais e a vida agitada da cidade grande.

Foi na pequena e ensolarada aldeia francesa de Arles que a pintura de Vincent van Gogh encontrou o cenário ideal para dar o grande salto artístico, a partir de 1888, apenas dois anos antes de sua morte. As cores - sobretudo o amarelo - explodiram com intensidade nas telas, mas o deslumbramento e a obsessão pelo trabalho minaram-lhe a saúde física e mental.

Em Arles, pintou cerca de 200 quadros e fez 100 desenhos. Ficou esgotado e foi internado em um asilo, após uma série de colapsos nervosos. Em um deles, investiu contra o colega Paul Gauguin, armado com uma navalha. Terminou por decepar a própria orelha, que presenteou a uma prostituta.

Em meados de 1890, aos 37 anos, viajou para a cidade francesa de Auvers-sur-Oise, para tentar descansar e recuperar a saúde. O médico recomendou-lhe a pintura como terapia. No dia 27 de julho, saiu em direção a um trigal, igual a tantos outros que já pintara. Mas não levava telas e pincéis, e sim uma pistola. Voltou a arma contra o próprio peito e apertou o gatilho. Não resistiu ao ferimento. Morreu por volta de uma e meia da manhã do dia 29.

No início daquele ano, recebera uma boa notícia: finalmente um trabalho seu, o quadro "A videira vermelha", conseguira encontrar comprador.



Curiosidades 

Cartas a Theo.  Ao longo da vida, Vincent van Gogh escreveu mais de 750 cartas ao irmão, Theodore, quatro anos mais novo, mas por quem foi sustentado durante longos períodos. Nesses escritos, discorre longamente sobre seu processo criativo, sobre seu relacionamento com o irmão e amigos e sobre o avanço progressivo da loucura. A extensa e emocionada correspondência seria mais tarde reunida em livro, Cartas a Theo. No Brasil, existe uma edição de bolso da obra, editada pela L&PM. 
O missionário. Em 1878, Vincent van Gogh tentou ingressar em um curso de teologia em Amsterdã. Pretendia seguir a mesma carreira do pai e do avô, pastores protestantes, mas foi reprovado nos exames de admissão. Não desistiu: fez um curso livre em Laeken, próximo a Bruxelas e depois mudou-se para um pequeno distrito, cujos moradores viviam do trabalho extenuante em uma mina de carvão. Como missionário, passou por várias privações, dormindo no chão e tratando de doentes incuráveis.
Prova de fogo. Uma das muitas paixões não-correspondidas de Vincent van Gogh foi a que nutriu pela prima, Kee Vos-Stricker, que era viúva e mantinha-se fiel à memória do marido morto. Para provar a intensidade de seu amor, Vincent submeteu-se, literalmente, a uma prova de fogo: deixou a mão sobre a chama de uma lamparina até queimá-la. A prima não se comoveu.
Desavenças com Gauguin. Quando mudou-se para Arles, Vincent van Gogh convidou Paul Gauguin para morar com ele naquela cidade do sul da França. Pretendia fundar, ao lado do colega, uma espécie de "colônia de artistas". O curto período em que estiveram juntos foi de grande importância para a obra posterior dos dois artistas. Mas as diferenças estéticas e as diferenças de temperamento entre os dois terminaram por provocar crises nervosas em van Gogh, que se revoltou, quis agredir Gauguin e acabou por se agredir, cortando um pedaço de sua orelha. Gauguin com intenções simbolistas pintava de memória, enquanto van Gogh fazia questão de pintar diante da natureza.
À luz de velas. Van Gogh pintava também à noite, no campo, ao ar livre. Para iluminar o cavalete, as tintas e os pincéis, o artista lançava mão de um singular estratagema: colocava uma fileira de velas acesas sobre a aba do chapéu.
Arte no sanatório. Após a temporada em Arles, o artista foi internado em um hospital em Saint-Remi-de-Provence. As obras deste período mostram ciprestes eriçados e céus turbulentos. É desta época a sua interpretação da gravura de Doret "A ronda dos prisioneiros", na qual se identifica e se retrata entre os prisioneiros.
Milhões de dólares. Como não tinha dinheiro para pagar modelos, Vincent van Gogh convidava amigos e conhecidos para pintar-lhes os retratos. Foram assim que surgiram algumas de suas obras mais célebres, como o "Retrato do Dr. Gachet" - Paul Gachet foi o médico que tratou dele nos últimos momentos de vida. Um século depois, em 1990, o quadro foi leiloado por mais de 80 milhões de dólares.
Nas telas do cinema. A vida atormentada de van Gogh tem sido um tema fértil para o cinema. Um dos grandes filmes sobre a vida do artista é Sede de viver, dirigido por Vincent Minelli, de 1956, com o ator Kirk Douglas no papel principal. O cineasta japonês Akira Kurosawa também o retratou em um dos episódios do filme Sonhos, de 1990. No mesmo ano, Robert Altman filmou Van Gogh - Vida e obra de um gênio. Em 1991, o francês Maurice Pialat, em Van Gogh, abordou os meses finais da existência turbulenta do pintor.



Contexto histórico
Sob o signo da paixão.

A rigor, a obra de Vincent van Gogh não pertence a nenhuma corrente artística específica. Na falta de uma classificação mais precisa, costuma-se incluí-la no rótulo genérico do pós-impressionismo, termo criado posteriormente para definir um grupo de artistas, de diferentes estilos e tendências, surgidos no final do século 19. Ao provocar uma ruptura com seus antecessores, anteciparam alguns pressupostos da arte moderna do século 20.

O impressionismo originara-se em Paris, entre 1860 e 1870. A invenção e a popularização crescente da fotografia impuseram aos artistas um dilema incontornável: qual a função que restava à pintura, se o novo invento era capaz de retratar o "real" com a maior fidelidade possível? Como solução para o problema, os impressionistas propunham que as artes plásticas, em vez de sucumbir diante do advento da fotografia, deveria superar a fase realista e se concentrar em formas subjetivas de captar o mundo, dando ênfase à luz e ao movimento.

Os primeiros trabalhos de van Gogh, feitos ainda na Holanda, revelavam uma forte preocupação social ao retratar, com tons sombrios e monocromáticos, a vida miserável dos camponeses, em um momento em que a Revolução Industrial modificava a vida nas grandes cidades e provocava uma onda de pauperização extrema na zona rural.

Em Paris, ao entrar em contato com os impressionistas, van Gogh deixou de lado as cores escuras e passou a explorar a luminosidade e um cromatismo intenso. Mas sua arte não se submeteria aos princípios seguidos pelos colegas parisienses. Na verdade, levaria o impressionismo às últimas conseqüências, radicalizando a experiência de representação subjetiva da realidade.

As pinceladas rápidas e enérgicas, as formas contorcidas e uso de cores primárias conferiam às telas uma dramaticidade única e revelavam a alma atormentada do artista. Van Gogh antecipava assim algumas características básicas do expressionismo, escola que romperá de vez com os padrões tradicionais de beleza. "Procuro exprimir as mais terríveis paixões humanas. Quero pintar o retrato das pessoas como eu as sinto e não como eu as vejo", dizia o artista.



Sites relacionados 

Museu Van Gogh - Site oficial do Museu Van Gogh, em Amsterdã, inaugurado em 1973. Contém biografia, fotos e reprodução de obras. Textos disponíveis em holandês, inglês, espanhol, italiano, alemão e japonês. 
Masp - Aqui podem ser conferidas as obras de Vincent van Gogh que fazem parte do acervo do Museu de Arte de São Paulo, o Masp. 
Van Gogh Gallery - Página em inglês, com muitas informações sobre o artista, incluindo biografia, cronologia e lista das principais obras, além de downloads de proteções de telas para computador. 
WebMuseum - O site traz reproduções de dezenas de quadros de van Gogh. 
Van Gogh's Letters - Site com cartas escritas por Van Gogh, catalogadas por data e assunto, com recurso adicional de busca por palavras. Em inglês. 
The Vincent van Gogh Gallery - Site em ingles sob responsabilidade de David Brooks, com 2.174 obras listadas e comentadas, entre desenhos, e pinturas.
Website Van Gogh & Gauguin - O site é do Museu van Gogh de Amsterdam e fala da relação entre os dois, mostra os quadros produzidos neste período, correspondências e críticas.



Principais obras

1. Os comedores de batatas (1885) - O quadro mais famoso da primeira fase do artista. Retrata trabalhadores em torno de uma mesa, pintados em tons sombrios.

2. Quarto em Arles (1888) - Pinceladas firmes e cores fortes são usadas para retratar o quarto de van Gogh em Arles, cidade que marcou sua reviravolta artística. Existem mais duas versões desta obra realizadas em 1889.
3. Doze girassóis numa jarra (1889) - Um dos mais conhecidos quadros da série de girassóis que van Gogh começou a pintar em Arles. Hoje está entre as obras mais valiosas do mundo.
4. Auto-retratos (1886-1890) - Van Gogh pintou trinta e cinco entre 1886 e 1889. Um dos mais famosos eternizou o episódio em que cortou a própria orelha: "Auto-retrato com orelha enfaixada", de 1889.
1888.
5. Noite Estrelada (1889) - Um dos quadros mais reproduzidos de van Gogh em todo o mundo, pintado em Saint-Remy-de-Provence.

6. Retrato do Dr. Gachet (1890) - Pintado nos últimos meses de vida do artista, mostra o médico que cuidou dele em Auvers-sur-Oise e que o socorreu após o tiro no peito que o levaria à morte.

Fonte:  http://mestres.folha.com.br/pintores/01/

6 comentários:

  1. Olá Lilian!
    Um verdadeiro gênio, é como vejo Van gogh. Pena que sua genialidade tenha sido reconhecida somente após a sua morte. E pensar que a vida, reservou a esse grande homem, momentos de muitas dificuldades, passou fome e frio, viveu em barracos e conheceu literalmente a miséria. Bem vale registrar uma frase dele que trago na memória: "O amor é eterno - a sua manifestação pode modificar-se, mas nunca a sua essência... através do amor vemos as coisas com mais tranquilidade, e somente com essa tranquilidade um trabalho pode ser bem sucedido. "
    Bem vou parar por aqui amiga te desejando uma feliz páscoa e desejos de que vc continue renovando nossos dias com histórias e lembranças tão boas.
    Bjs
    Lelê

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  2. Adorei ler mais um pouco sobre Van Gogh; é sempre emocionante :)
    “Andei por esta terra durante trinta anos e, por gratidão, quero deixar alguma lembrança.” -Vincent Van Gogh

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  3. Estou finalizando a leitura da biografia escrita por Steven Naifeh e Gregory White Smith. Impressionante relato. Van Gogh, imortal, deixou um legado magistral, de raríssima beleza e sensibilidade para o mundo. Fico estupefato, gélido, em transe, diante de suas geniais obras. Dimas Galvão

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