quinta-feira, 2 de junho de 2011

Iniciação a Pintura.

Olá amigos,

Já comentei num post especial, sobre um livro magnífico que me foi indicado pelo Profº Márcio do blog Cozinha da Pintura, intitulado: INICIAÇÃO À PINTURA.

Como trata-se de um livro com certa dificuldade de ser encontrado, decidi ir aos poucos, transcrevendo trechos dele, para que vocês tomem conhecimento da excelência dos seus ensinamentos.   Contudo, ressalto que realmente vale a pena tentar adquiri-lo, pois seu preço é ótimo e seu conteúdo é um verdadeiro tesouro.

Abraço,

Lilian

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Iniciação à Pintura


" Observa-se que os processos de pintar, nos últimos tempos, vêm sofrendo redução de qualidade devido a várias ocorrências, algumas incontroláveis e outras por simples falta de atenção por parte dos artistas, naquilo que se refere aos materiais e técnicas através dos quais realizam as obras de arte.

O trabalho de "cozinha", que obrigava um contato direto e permanente do artista com os pigmentos, aglutinantes, suportes, diluentes e solventes, foi substituído pelas facilidades oferecidas pela industrialização.  O artista alheou-se do convívio com os materiais que lhes são próprios e a consequente perda do conhecimento de suas propriedades, qualidades e defeitos.

Os resultados são, já agora, evidentes.  Muitas pinturas produzidas nos séculos XIX e XX encontram-se em mau estado de conservação e várias delas em condições desesperadoras e nos limites extremos de resistência, em comparação com aquelas produzidas em períodos anteriores, remontando algumas delas a séculos.

Muitos artistas contemporâneos, grandes artistas inclusive, vangloriam-se de usarem produtos estrangeiros da mais alta qualidade.  Em verdade, não duvidamos da superioridade de alguns desses produtos, mas há sempre uma relação entre o elemento adquirido pelos pintores e a maneira de empregá-lo.

Por outro lado, muitos produtos industrializados têm exigências que não se coadunam e contrariam, mesmo, em alguns casos, às necessidades exigidas pela conservação e permanência da obra de arte.  Um exemplo encontra-se na própria tela. Quando esta é produzida pelo artista, embora com meios limitados, será sempre melhor do que aquelas industrializadas, mesmo as que são provenientes das fábricas mais conceituadas.  A tela fabricada em grande quantidade e que deva ser transportada em rolos, exige determinada porção de ingredientes plastificadores, que impeça o fendilhamento da superfície da mesma, ao ser enrolada.  Geralmente, o óleo é o material empregado, em adição às colas de cartilagem e à mistura de pigmentos inertes constituindo o fundo da tela.  É justamente essa adição de óleo que cria a sua própria deficiência.  O óleo pode causar dois graves males aos suportes e à pintura, quando usado inadequadamente.  O primeiro reside no fato de ser ele um material oxidante e, como tal, ataca a celulose, que é o componente principal das fibras dos tecidos; o segundo refere-se à aderência da película colorida ao fundo.  Havendo excesso de óleo, "a pega" processa-se deficientemente e o descolamento da pintura surgirá inevitável, mais cedo ou mais tarde.  Ora, os artistas, produzindo suas próprias telas, fazem-no sem a necessidade do emprego do óleo e regulam a maior ou menor absorção do fundo, pela quantidade de cola empregada, sem óleo, que constitui o seu aglutinante.

Esse é um dos poucos exemplos, entre os muitos que poderiam ser citados, para mostrar o descuido dos pintores em relação aos problemas técnicos de sua profissão, descuido que não se justifica, pois a obra de arte é também artesanato, é também um objeto, e os valores estéticos brotam de dentro dos próprios materiais.

É através da matéria que o artista toma conhecimento da dureza do pensamento, conforme nos ensina Henri Focillon.  Estamos convencidos de que a técnica não é arte mas, por outro lado, sabemos também que, sem ela, a pintura dificilmente poderá manifestar-se, em toda sua plenitude.

Esses conhecimentos não dizem do que fazer, mas simplesmente do como fazer. Não há, pois, que temer injunções de ordem psicológica ou diminuição da intuição e do poder criativo.

Ao estudarmos os problemas relacionados com a técnica da pintura, não pretendemos apresentar um trabalho com características de originalidade porque, salvo em algumas observações pessoais, recorremos constantemente aos estudos dos mestres, nos quais nos apoiamos, como é fácil verificar pelas frequentes citações encotradas ao longo destas páginas.  Em vez de originalidade, pensamos em termos de utilidade, tendo como base os estudos feitos até agora por muitos autores e o nosso longo e cotidiano convívio com pinturas de todas as épocas, seus materiais e, especialmente, suas enfermidades.

A intenção que nos moveu a reunir estas notas foi a de proporcionar aos estudantes de arte um roteiro destinado a orientá-los no sentido da familiarização com os materiais de sua profissão e a estimular suas próprias pesquisas.

Os autores: Edson Motta e Maria Luiza Guimarães Salgado."

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